Simonal

Dirigido por Leonardo Domingues, a cinebiografia "Simonal" narra a trajetória de Wilson Simonal de Castro, um dos cantores brasileiros mais populares das décadas de 1960 e 1970.

O filme mostra o início da carreira, quando o cantor deixa a banda "Dry Boys" para trabalhar com Carlos Imperial. A partir daí, o artista conquista seu espaço e começa uma trajetória de sucesso, culminando com o célebre show no Maracanãzinho, em 1969. Transformado em garoto propaganda da Shell, a multinacional do Petróleo no Brasil, Wilson Simonal começa a dar os primeiros passos numa carreira internacional. 

Tudo parecia ir bem até que ele descobre estar falido financeiramente. É quando tem início o drama pessoal do artista. Simonal é acusado de ser o mandante do sequestro e tortura de seu ex-contador por agentes do Departamento de Ordem Política e Social - DOPS. O cantor é indiciado, preso e perseguido pela imprensa, ganhando a alcunha de "dedo-duro" da classe artística.
O longa de Domingues narra esta história controversa, tentando redimir o artista. Realizado com a colaboração de Max de Castro e Wilson Simoninha, filhos do cantor e responsáveis pela trilha sonora, a cinebiografia é uma espécie de desdobramento do documentário "Simonal - Ninguém sabe o duro que dei" de Cláudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal, que também contou com a participação de Leonardo Domingues, na pós-produção.
O diretor, que também assina o roteiro em parceria com Victor Atherino, faz um recorte no tempo, mostrando o auge e a derrocada de um ídolo da música brasileira. A cinebiografia não aprofunda no passado do personagem, mas tenta apresentar algumas nuances da psicologia do artista, retratado como um homem um tanto rude, porém narcisista e de grande talento. 
Considerado o primeiro showman brasileiro, o cantor possuía uma enorme presença de palco, sabendo como ninguém comandar a plateia. Dono de uma voz e de um carisma inigualável, Simonal soube se destacar no cenário artístico brasileiro. Tido como culpado por alguns e injustiçado por outros, a história de sua vida, desconhecida pelas novas gerações, é o retrato de uma época de medo, censura e violência política. 


Numa conjuntura de grande repressão, Simonal cantava a "pilantragem" e as maravilhas de ser brasileiro, praticamente ignorando a situação política do país. Esse tipo de postura para um artista de grande projeção nacional não era bem visto pelos que lutavam pela volta da democracia. Por outro lado, o filme enfatiza que o artista denunciava o racismo no Brasil e que o seu sucesso incomodava boa parte da crítica especializada, além do próprio DOPS.

O filme não aborda os últimos anos da vida do cantor, que tentou voltar aos palcos inúmeras vezes, mas foi simplesmente expurgado do meio artístico. A narrativa é construída no sentido de justificar as ações de Simonal no episódio que marcou o fim de sua carreira musical. Ele surge como alguém deslumbrado pelo poder que conquistou, vítima de sua própria arrogância, declarações infelizes e revolta. De origem humilde, o cantor não estava preparado para lidar com a fama repentina e com o mundo dos negócios. Sentindo-se traído e roubado, ele optou pelo politicamente incorreto, agindo por impulso e pela força, sem medir as consequências de seus atos. Esse foi o seu maior erro.

A interpretação de Fabrício Boliveira é poderosa, intensa. O ator consegue captar nuances da personalidade de Simonal, dentro e fora dos palcos. Ísis Valverde, que interpreta Tereza, a primeira esposa, também tem bons momentos e a química entre os dois atores funciona. Algumas cenas são fortes, como os conflitos entre o casal, resultado também de certas liberdades do roteiro. 

O filme apresenta uma narrativa circular, em flashback, pontuada por imagens de arquivo do Rio de Janeiro da década de 1960. A produção prima pelos detalhes, com direção de arte e figurino impecáveis, a cargo de Yurica Yamazaki e Kika LopesA fotografia de Pablo Baião tem dois momentos de destaque: dois planos-sequência muito bem elaborados, mostrando o apogeu e o ostracismo do artista.
Mesmo após a sua morte, em 2000, resultado de problemas com o alcoolismo, muitos mantém a tese de que o artista foi realmente delator. Em 2002, a pedido da família, a Comissão de Direitos Humanos da OAB realizou uma investigação nos arquivos nacionais concluindo que não há nenhum registro de que o ex-sargento do exército fosse colaborador dos órgãos de repressão da Ditadura Militar. Wilson Simonal foi moralmente reabilitado em julgamento simbólico, em 2003.

O filme conta ainda com o seguinte elenco: Leandro Hassum, Mariana Lima, João Velho, Caco Ciocler, Bruce Gomlevsky, Letícia Isnard, Silvio Guindane, e as participações de Rafael Sieg, João Sabiá, Lilian Menezes e João Viana, entre outros. 

Elisabete Estumano Freire.



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