Dedo na Ferida



"Dedo na Ferida", de Silvio Tendler, discute a lógica do capital e o controle que a elite financeira dos países tem sobre as democracias nacionais, principalmente das nações mais pobres.

Utilizando uma narrativa baseada em entrevistas com autoridades de fala, o cineasta faz uma análise sobre as mazelas do grande capital que põe em risco as democracias contemporâneas. Mostra que o discurso de permanente crise financeira é essencialmente ideológico, com o objetivo de justificar a política de manutenção das desigualdades sociais. 

Acompanhando a rotina de um trabalhador do subúrbio carioca e de artistas populares, o cineasta faz um paralelo de como a lógica do capital especulativo e predatório atinge as populações mais pobres através do ataque aos direitos dos trabalhadores. Mostra como a mercantilização dos espaços produz bolsões de pobreza, como as favelas. De uma maneira quase didática, o cineasta traduz o discurso econômico, esclarecendo as razões pelas quais as políticas dos governos nacionais beneficiam as grandes empresas e os bancos. Deste modo, revela as causas da crise econômica, apontando as disparidades dos lucros dos donos do capital em consonância às políticas de austeridade dos países menos desenvolvidos, como o Brasil. 

Para traçar um panorama do cenário contemporâneo mundial, Tendler registrou depoimentos de cineastas, jornalistas, políticos, sindicalistas, historiadores e economistas. Entre os quais, podemos citar: o ex-ministro de finanças da Grécia, Yanis Varoufakis; o ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim; o vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento-Brics, Paulo Nogueira Batista Jr; o cineasta Costa-Gravas; intelectuais das Universidades de Coimbra (Portugal), Universidade de Nova Iorque (EUA), Universidade Carlos III (Espanha); além de economistas da Pontíficia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), da Universidade de Campinas (Unicamp) e Universidade de São Paulo (USP).

O documentário faz uma análise dos reflexos das crises do capitalismo, desde a quebra da Bolsa de Nova Yorque, em 1929, até o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, em 2008Revela dados da economia mundial, comparando o crescimento da pobreza e a falência dos estados nacionais, com o fortalecimento do poder das grandes corporações financeiras e midiáticas. 

O filme mostra ainda as consequências da crise no Brasil e no mundo, com o fim do Estado de Bem Estar Social. Através de um narrativa analítica, o filme descortina o modo como essas elites interferem nos governos dos países, utilizando a imprensa para convencer a sociedade a aceitar uma política de recessão e cortes das subvenções sociais. O longa enfoca as consequências da crise financeira nas democracias da América Latina, assim como em Portugal, Espanha e Grécia. 

Apesar de trabalhar com um assunto árido, a política e economia mundial, Tendler consegue dar o seu recado. Com um discurso direto, "Dedo na Ferida" aborda as causas e os fundamentos ideológicos do velho discurso de alteridade financeira e arrocho salarial, assim como a luta dos movimentos populares contra essa política nefasta. 

Como resultado, apresenta as tensões sociais, conflitos, dramas de comunidades inteiras e tragédias pessoais. Mostra como uma pequena elite, formada por bancos, seguradoras, fundos de investimento, grandes corporações empresariais e conglomerados de mídia, comanda os destinos dos recursos do planeta.


Com a ajuda da história, da economia e da filosofia, pontuando a narrativa com frases de grandes pensadores, o cineasta faz um paralelo entre esses dois mundos que parecem muito distantes, mas são duas faces da mesma moeda. O lucro das grandes corporações financeiras é responsável pelo aumento exponencial do número de miseráveis no planeta, principalmente nos países do chamado Terceiro Mundo. 

Em 48 anos de carreira, Silvio Tendler produziu e dirigiu 80 obras, sempre pautado por um olhar de cunho histórico e social, com ética e responsabilidade. Seu mais recente trabalho, "Dedo na Ferida" é, acima de tudo, um filme-denúncia sobre o panorama da política financeira internacional e como ela afeta o Brasil e os demais países ao redor do mundo. Um documentário que mistura uma reflexão poética com a sofrida realidade dos fatos políticos atuais.

"Dedo na ferida" foi eleito como melhor documentário no Festival do Rio 2017 e premiado com menção honrosa na Mostra Competitiva do Festival de Cinema Político da Argentina (FICIP), em 2018.


Elisabete Estumano Freire



Similar Videos

0 comentários: