Entre irmãs


Inspirado no livro "A costureira e o Cangaceiro", de Frances de Pontes Peebles, o novo filme de Breno Silveira é a história das irmãs Luzia (Nanda Costa) e Emília (Marjorie Estiano), duas mulheres que lutam pela sobrevivência, pelo amor e por sua independência, no nordeste dos anos 20/30.


Na infância, Luzia (Nanda Costa) sofre um acidente, que a deixa deformada. Ela se torna uma pessoa amarga, sem esperança de fazer um bom casamento. Já Emília (Marjorie Estiano) é alegre e sonhadora, nutrindo a esperança de encontrar seu príncipe encantado e morar na capital. As moças vivem com tia Sofia (Cyria Coentro), que as ensinou o ofício de costureira. A vida de ambas muda drasticamente com a chegada do bando de Carcará em Taquaritinga, no sertão de Pernambuco. 

O filme de Breno Silveira contextualiza o nordeste da República Velha, contrapondo o sertão e os centros urbanos, através da jornada das duas personagens. Enquanto Luzia é obrigada a acompanhar os cangaceiros, Emília vai morar em Recife, deparando-se com uma nova realidade. 

Na primeira metade do século XX, a capital pernambucana já era um importante centro comercial e um dos principais pólos de exportação da produção agrícola do país. Entretanto, os reflexos da crise financeira mundial após o crash da Bolsa de Nova Iorque chegaram ao Brasil, desestabilizando a economia nacional  e intensificando os conflitos entre as oligarquias dominantes, a burguesia, o proletariado urbano e o tenentismo, que reivindicavam reformas políticas e sociais. Nos centros urbanos, os conflitos políticos só aumentavam. No interior, como reação ao poder dos coronéis, surge o banditismo social na figura do cangaço. Portanto, o palco estava armado para a eclosão da Revolução de 1930. Um dos estopins foi o assassinato de João Pessoa, no centro de Recife. Ele era governador da Paraíba e candidato a vice na chapa de Getúlio Vargas.

O longa mostra os diferentes destinos destas mulheres, numa época de intensas transformações políticas, culturais e sociais no país. Recife possuía uma elite conservadora que recebia forte influência cultural e ideológica da Europa, retratado no filme com o evento do vôo inaugural do "Graf Zeppelin", em 22 de maio de 1930, realizando a rota Brasil-Europa. Muitos também acreditavam na cientificidade de teorias racistas, em voga na Europa, como a frenologia, que tinha a pretensão de determinar as características de personalidade, caráter e grau de criminalidade através da medição do crânio humano. O diretor também enfatiza a hipocrisia e o preconceito da sociedade familiar da época, que negava o homossexualismo e obrigava os filhos a serem submetidos à violência de pseudoterapias de reversão sexual realizada em manicômios.

Vivendo em mundos diferentes, mas unidas pelo amor, essas duas mulheres irão ultrapassar seus limites, tendo que aprender a sobreviver num mundo machista e preconceituoso. As personagens perdem a inocência e a fantasia, amadurecendo diante das adversidades. Apesar da distância, elas sabem que só tem uma a outra. 

A produção realizou um trabalho primoroso de reconstituição de época, através de cenografia, direção de arte, figurino e efeitos visuais que recuperam momentos históricos. As cenas de combate, do campo de refugiados e do vôo inaugural do Zepellin merecem especial atenção. Apesar da longa duração, 160 minutos, "Entre irmãs"consegue manter o ritmo, sem se tornar enfadonho. O que chama a atenção no filme de Breno Silveira, que definiu a obra como um épico feminino e intimista, é a forma delicada com que ele tratou das relações amorosas e do amor fraternal, além da coragem e da resignação de seus personagens. 

No elenco, Angelo Antônio, Júlio Machado, Rômulo Estrela,  Letícia Colin, Claudio Jaborandy, Rita Assemany, Gabriel Stauffer, Fábio Lago, Claudio Ferrario e Vinicius Nascimento.

Elisabete Estumano Freire.






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