AQUARIUS (2016)


O novo filme estrelado por Sônia Braga, “Aquarius”, narra a história de Clara, proprietária de um apartamento, num prédio antigo, em frente a praia de Boa Viagem, numa das áreas mais valorizadas da cidade de Recife (PE), que é pressionada por uma construtora para que venda seu imóvel. Em pauta não apenas o processo pernicioso da especulação imobiliária, mas os valores e preconceitos que permeiam a sociedade brasileira.

O longa é dividido em três partes, enfatizando os desafios vividos pela personagem. Amante das artes, especialmente a música, Clara é uma jornalista aposentada que aprecia sua coleção de discos de vinil e não é facilmente seduzida pelas inovações tecnológicas da atualidade. Apaixonada pela MPB, por Villa-Lobos e pelos Beatles, a personagem constroi uma narrativa pessoal pontuada pelas canções. A música como resgate da memória. Uma memória registrada não apenas na musicalidade de uma época e no apartamento que guarda lembranças familiares, mas como uma memória corporificada em suas cicatrizes. Música como narrativa. Assim como no documentário de Eduardo Coutinho, “As canções”, a musicalidade é o dispositivo que recupera uma época e evoca sentimentos. No filme de Kleber Mendonça Filho, que dirigiu e escreveu o roteiro, a música é apresentada como símbolo de resistência.

Sonia Braga está ótima no papel, dando nuances delicados a uma personagem forte. Viúva ainda jovem, Clara criou os filhos sozinha, e na maturidade deseja viver de modo simples, no lugar que sempre morou. Entretanto, seus desejos vão de encontro ao interesse do capital imobiliário. Pressionada, Clara resiste bravamente e vai até as últimas consequências para poder manter-se no mesmo local, defendendo seu lar das ameaças dos donos de uma grande construtora, que pretende derrubar o imóvel para construir um condomínio de luxo.

O drama da personagem, que passou pela dolorosa experiência da mastectomia, é uma realidade para muitas mulheres vítimas de câncer. Solitária, Clara busca o amor, mas encontra a rejeição no preconceito masculino. Seu modo de encarar a vida, no entanto, não é pessimista, ainda que tenha de entrar em confronto com os próprios filhos, na defesa de um ideal. Manter suas convicções é um ato de liberdade e não pode ser encarado como loucura. O roteiro também trabalha o modo como a personagem lida com sua sexualidade, a orientação sexual dos filhos e o envelhecimento.

O filme foi alvo de controvérsias devido ao protesto durante estreia em Cannes contra o processo de impeachment da presidente Dilma Roussef e a classificação indicativa do Ministério da Justiça para 18 anos, devido as cenas de sexo explícito e drogas. No dia 01 de Setembro, após reunião entre a representante da Distribuidora Vitrine Filmes e o secretário nacional de Justiça e Cidadania, Gustavo Marrone, o pedido de reconsideração foi deferido e a classificação indicativa foi diminuida para 16 anos. A justificativa ao pedido foi que as cenas de sexo são de curta duração e não fazem parte do tema central do filme, assim como o uso de drogas.


Elisabete Estumano Freire. (05/09/2016)

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AQUARIUS (2016)
DURAÇÃO: 2H26MIN (DRAMA)
DIREÇÃO E ROTEIRO: KLEBER MENDONÇA FILHO
ESTRELANDO: SONIA BRAGA, MAEVE JINKINGS, IRANDHIR SANTOS
MAIS INFORMAÇÕES: IMDB: AQUARIUS (2016)

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