Inspirado no mangá de Shirow Masamune, o filme dirigido por Rupert Sanders (Branca de Neve e o Caçador) traz Scarlett Johansson como Major, a ciborgue da Hanka Robotics que trabalha como agente policial contra crimes cibernéticos.
Para quem é fã do mangá, recheado de críticas sociais e políticas sobre o uso da tecnologia e da cibercultura para controlar mentes humanas, o longa de Sanders pode decepcionar. Com efeitos visuais de tirar o fôlego, o filme é mais um trailler de ação, com muita perseguição e munição à vontade, num ambiente futurista, lembrando sequências de Matrix, Blade Runner e O exterminador do Futuro, além da própria versão em anime, lançada em 1995, dirigida por Mamoru Oshii. Na verdade, o filme estrelado por Johansson tem muito da versão de Mamoru Oshii, visualmente falando, mas pouco em conteúdo, já que as questões políticas não são aprofundadas, principalmente a ação governamental na usurpação de almas e manipulação de corpos. O ciberterrorismo é abordado, ainda que não seja o tema central, já que o foco da narrativa é o questionamento da memória como busca da identidade. Também não há críticas sobre o uso ideológico e abusivo da mídia.
Takeshi Kitano no papel de Aramaki |
Johansson está bem no papel de Major Motoko Kusanagi. Ainda que muitos desejassem que a protagonista fosse uma atriz japonesa, e não um rosto conhecido de Hollywood, ela consegue encarnar a ciborgue, seja na estranheza do olhar, do comportamento, ou na sensualidade fria da personagem de Shirow Masamune. Pilou Asbaek(Games of Thrones/ Ben-Hur) faz Batou, o companheiro de ação de Major; o ator britânico Peter Ferdinando (300: a ascensão do Império) interpreta Cutter, responsável executivo dos projetos cibernéticos da Hanka Robotics. Destaque para a estrela do cinema japonês, Takeshi Kitano, no papel de Aramaki, o chefe do setor 9, responsável por combater os crimes cibernéticos.
A discussão sobre a importância da ética no uso da tecnologia pela comunidade científica, assim como o velho confronto entre criador e criatura é o centro da narrativa. Numa sociedade interconectada, o poder da rede, do desenvolvimento da robótica e da nanotecnologia mudou a noção de humanidade, reconstruída a partir da consciência e da memória. Entretanto, se essa memória pode ser manipulada não há verdades absolutas, deixando os indivíduos à deriva. Deste modo, num mundo globalizado, o sentimento de pertencimento, o perdão do passado e a vontade de continuar, ou seja, seguir em frente acreditando no futuro, é a força motriz para a evolução da humanidade, ainda que tardia. “Não somos nossas lembranças, elas não nos definem. O que nos define é o que fazemos. Nossa humanidade é o que nos define” é o recado do filme.
Apesar de entender que tal mensagem soa contraditória com a ideia de preservação da memória social e política, como ferramenta de conhecimento do passado, necessário para a tomada de decisões no futuro, vejo o filme de Rupper Sanders como mais uma metáfora sobre a humanidade e o perigo da falta de ética na utilização da tecnologia e da cibernética, inspirado na obra de Shirow Masamune.
Elisabete Estumano Freire
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A vigilante do amanhã (2017)
Título Original: Ghost in the Shell
Duração: 1h 47m
Direção: Rupert Sanders
Roteiro: Shirow Masamune (baseado na obra de), Jamie Moss, Whiliam Wheller, Ehren Kruger.
Estrelando: Scarlett Johansson, Takeshi Kitano, Pilou Asbaek, Juliette Binoche.
Ver mais informações no IMDB - A VIGILANTE DO AMANHÃ (2017)
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