Dirigido por Alexandre Bouchet e produzido por Marcos Altberg, o documentário apresenta um breve panorama das conseqüências sócio-ambientais da região da bacia do Rio Xingú, no norte do Pará, após a inauguração da barragem da hidrelétrica de Belo Monte, em 5 de maio de 2016, com a construção de um canal de 20 km de extensão.
Segundo os próprios autores, o filme é uma crônica da morte anunciada do Rio Xingu, sem intenção moralizadora, apresentando diferentes mundos e personagens atingidos pela construção da barragem de Belo Monte, para o bem ou para o mal.
O documentário não faz um resgate histórico da luta de mais de 30 anos dos povos indígenas, das comunidades ribeirinhas, dos ambientalistas e de ativistas políticos contra Belo Monte. Também não mostra a repercussão internacional sobre o projeto, principalmente durante o final dos anos 80, com a mobilização dos índios Kayapós, e especialmente a figura do Cacique Raoní, que levou o debate sobre o tema para a ONU, obtendo o apoio de artistas como o cantor Sting. Apenas cita que o estudo de viabilidade do projeto teve início na década de 1970, ainda durante o período de ditadura civil-militar, tendo sido retomado pelo governo de Lula e Dilma Roussef. Entretanto, o plano de construção do complexo de hidrelétricas na bacia do Rio Xingu, a começar por Belo Monte, foi defendido pelos governos seguintes ao regime militar, desde Sarney passando pelo governo do PSDB, sendo Fernando Henrique Cardoso um de seus expoentes mais fervorosos, com o apoio do Congresso Nacional, de maioria peemedebista.
O longa mostra que as condicionantes necessárias à aprovação da licença ambiental para a realização do projeto ainda não foram cumpridas. O saldo de destruição de extensas áreas de floresta amazônica, atingindo a fauna e a flora da bacia do Rio Xingú, contradiz o discurso governamental de preservação ambiental. O Xingú, dos mitos e das lendas, agoniza.
Acompanhando personagens atingidos pelo projeto, a equipe de filmagem mostra as conseqüências do funcionamento de Belo Monte. Para os integrantes das tribos indígenas, em especial dos índios Araras, comunidades caboclas ribeirinhas e famílias de pequenos agricultores, a expulsão de suas terras e do seu modo de vida; para os habitantes de Altamira, com o inchaço demográfico, o aumento da violência e da prostituição; para a leva de desempregados oriundos de outras regiões do país, a esperança de uma vida melhor nos canteiros de obra da hidrelétrica. Mais uma vez, o discurso de desenvolvimento energético, que não beneficia os habitantes da região, é respaldado pelas autoridades governamentais que usam do aparato policial e do judiciário para controlar a área do projeto.
De acordo com seus realizadores, o filme retrata o combate entre David e Golias. Apesar de focar os principais problemas da região, elegendo alguns porta-vozes do projeto (um biólogo e um engenheiro da Norte Energia), do Estado (um delegado de polícia de Altamira), e representantes da resistência (líderes indígenas, ativistas ambientais e um padre estrangeiro ameaçado de morte), a narrativa chega a fazer uma inversão valorativa ao chamar os povos indígenas de “invasores” durante uma ação de ocupação do acampamento dos trabalhadores da Norte Energia. Quem são os verdadeiros beneficiados pelo projeto Belo Monte? Afinal, quem são os verdadeiros invasores?
Para aqueles que não acompanharam a polêmica da construção de Belo Monte ou esqueceram a problemática em torno do projeto, o documentário é um alerta sobre a situação da região, que não deve ser esquecida. É um esforço de não calar as vozes dos personagens mais atingidos pela barragem e denunciar o envenenamento do Rio Xingú, para que a sociedade brasileira exija o correto cumprimento das condicionantes que autorizaram o licenciamento da obra.
Elisabete Estumano Freire.
Produzido por: Marco Altberg, Alexandre Bouchet e Laurent Delhome
Direção Artística e Conteúdo: Alexandre Bouchet
Locução: Roberto Frota
Roteiro: Alexandre Bouchet
Texto: Edilson Martins
Direção de Fotografia e camera: Markão Oliveira, Basil Dell, Rodolphe Darblay e François
Cardonna
Designer Gráfico: Caio Caldas e Eduardo Santos
Edição e Finalização: David Mutzenmacher , Paul Chopin e Marcelo Masseno
Coprodução: Yemaya Filmes, Globo Filmes, Globonews
Produção: Indiana Produções Cinematográficas
Ano: 2017
Duração: 70’’
Duração: 70’’
Estreia: 13 de Abril 2017
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