Imagine que, na segunda metade do século XXI, os cientistas conseguiram chegar a uma solução inusitada para o problema da superpopulação: o encolhimento de seres humanos. Quais os benefícios e os desafios dessa mudança? Dirigido por Alexander Payne ("Os descendentes") e estrelado por Matt Damon, "Pequena Grande Vida" é uma metáfora sobre a manipulação política do discurso científico em detrimento de verdadeiras mudanças sociais, políticas e econômicas, gerando mais distorções e desigualdades sociais.
Quando cientistas noruegueses descobrem a técnica de encolhimento de seres vivos em laboratório para cerca de 12 cm de altura, o terapeuta Paul Safranek (Matt Damon), a esposa Audrey (Kristen Wigg) e o resto do mundo ficam maravilhados com a novidade. A miniaturização celular realizada no prazo de 200 anos parece ser a única saída para a possibilidade de extinção da raça humana.
A mudança é vendida pela mídia como uma grande vantagem: custo de vida menor, com o conforto de pequenas fortunas e exclusividade de serviços. Os amigos que aceitaram a transformação só contam vantagens. E o casal Safranek, diante de graves problemas financeiros, decide que para eles essa é a melhor solução. Entretanto, o procedimento médico é irreversível e eles irão ter que abandonar o convívio com a família e os amigos que permanecerem com o tamanho natural. Uma decisão difícil.
Eles, finalmente, decidem realizar a miniaturização. Porém, nem tudo corre às mil maravilhas. Paul têm dificuldades de se adaptar a essa nova realidade. Apesar do apoio dos amigos, ele se sente perdido e sem motivação para fazer o que mais ama: trabalhar ajudando as pessoas. É quando começa a perceber que o mundo dos pequenos não é solução dos problemas, já que nada na verdade mudou.
Com a ajuda de novos amigos, o vizinho playboy sérvio Dusan Mirkovic (Christoph Waltz), seu parceiro de negócios Konrad (Udo Kier), e a faxineira de Dusan, a vietnamita refugiada Ngoc Lan Tran (Hong Chau), Paul começa a descobrir uma nova realidade. A propaganda massiva sobre as vantagens da miniaturização esconde o jogo de interesses corporativos de grandes empresas e governos nacionais.
De um modo geral, o filme apresenta como populações inteiras podem ser manipuladas, a partir de diferentes tipos de discurso, seja o político, o científico, o social e o religioso. E como o medo do futuro da humanidade pode ser utilizado pelos Estados nacionais como estratégia na política internacional, construindo ferramentas de negociação, repressão e punição, assim como para aumentar os lucros das organizações privadas e de grandes corporações. O longa também aborda o uso político da questão dos refugiados, marginalizados e excluídos.
"Pequena grande vida" não é apenas um filme sobre uma realidade distópica, mas mostra os diferentes caminhos que um ser humano pode percorrer para encontrar seu destino, o amor, e derrubar as muralhas do preconceito e da discriminação.
Elisabete Estumano Freire.
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