Dirigido por Wim Wenders, "Submersão" é baseado no livro homônimo de J.M. Legard, e narra a história de amor de dois personagens que vivem em mundos completamente opostos e se encontram num remoto hotel na região da Normandia. Enquanto a biomatemática Danielle "Danny" Flinders (Alicia Vikanders) está realizando uma pesquisa oceanográfica, o espião britânico e engenheiro de águas, James Moore (James Mcvoy) pretende se infiltrar junto a um grupo de terroristas jihadistas.
O filme faz parte do chamado grupo B de Wenders, divisão natural feita pelo próprio cineasta, caracterizado como produções em cores, centrados nos personagens, criados a partir de histórias de outros autores, com orçamentos maiores e uma estrutura de produção mais organizada, próxima ao estilo hollywoodiano. De acordo com Martins (2014)*, temos ainda: o grupo A, que se caracteriza por filmes em preto e branco, de baixo orçamento, centrados numa percepção da paisagem e de caráter mais realista, com roteiros construídos durante as filmagens; e o grupo misto, que reúne características de ambos os grupos.
Em "Submersão", os personagens são seres solitários, como anjos alados, totalmente comprometidos com o seu trabalho e um grande desejo de contribuir com a humanidade, ainda que para isso precisem desafiar os riscos da morte. Entretanto, o encontro amoroso acontece, mudando a perspectiva de ambos sobre o sentido da vida e o preço do sacrifício pessoal.
O contraste existente entre o indivíduo nômade e o sedentário, uma constante nos personagens wendersianos, também está presente em "Submersão". Vivendo na fronteira de dois lados opostos, tanto Danny quanto James possuem um olhar estrangeiro, mas nutrem um desejo enorme de se fixar, estabelecer laços que os mantenham em segurança.
Wenders mais uma vez destaca a exuberância da paisagem para revelar o sentimento de solidão e de impotência dos personagens. Em meio a uma realidade que, ao mesmo tempo, os oprime e os conduz, eles são impulsionados por uma força centrífuga da qual não conseguem se desvencilhar. Cineasta de alma romântica*, Wim Wenders utiliza as ruínas de guerra nas praias da Normandia para mostrar a fragilidade da vida humana diante das barreiras quase intransponíveis do mundo que eles precisam enfrentar. O medo faz parte desse conflito, que permanece presente, interferindo diretamente na união e/ou separação dos personagens.
A narrativa é feita inicialmente em flashbacks, a partir das memórias de James (Mcvoy), que se encontra refém dos jihadistas. Depois, o presente de ambos os personagens é revelado numa montagem alternada. A escuridão e a claustrofobia do ambiente do submergível é comparada ao cativeiro de James, que luta para manter a sanidade e a esperança em sair vivo dali e reencontrar Danny (Vikanders).
A ideologia política e religiosa é confrontada na figura do Dr. Shadid (Alexander Siddig), e dos extremistas jihadistas, que questionam as crenças de James como condição para sua sobrevivência. O embate ideológico também passa pela tentativa de desconstrução da identidade do prisioneiro, que em crise busca em suas memórias o equilíbrio.
A percepção da realidade que nos envolve, a dificuldade em enxergar o que está diante de nossos olhos é outra constante nos filmes do cineasta alemão. Numa eterna relação de mediação com o mundo, os personagens têm dificuldades em se comunicar e sofrem o sentimento de abandono, sempre frustrados em seu desejo de aproximação com o outro.
Partindo da adaptação do romance de J.M. Legard, Wenders trabalha com as camadas do oceano profundo e o subconsciente humano, que determina nosso modo de entender a realidade e enfrentar a vida. O discurso da guerra, seja interna ou externa, permeando o posicionamento do indivíduo também é trabalhado neste longa. "Submersão" é mais um filme do cineasta alemão que relaciona a paisagem como janelas para o interior emocional dos indivíduos.
Elisabete Estumano Freire
* India Mara Martins, autora do livro "A paisagem no cinema de Wim Wenders"(Editora Contracapa, 2014) é uma pesquisadora e professora do curso de Cinema da Universidade Federal Fluminense.
SUBMERSÃO (SUBMERGENCE, 2017)
DURAÇÃO: 1h52m
DRAMA, ROMANCE, TRILLER
O filme faz parte do chamado grupo B de Wenders, divisão natural feita pelo próprio cineasta, caracterizado como produções em cores, centrados nos personagens, criados a partir de histórias de outros autores, com orçamentos maiores e uma estrutura de produção mais organizada, próxima ao estilo hollywoodiano. De acordo com Martins (2014)*, temos ainda: o grupo A, que se caracteriza por filmes em preto e branco, de baixo orçamento, centrados numa percepção da paisagem e de caráter mais realista, com roteiros construídos durante as filmagens; e o grupo misto, que reúne características de ambos os grupos.
Em "Submersão", os personagens são seres solitários, como anjos alados, totalmente comprometidos com o seu trabalho e um grande desejo de contribuir com a humanidade, ainda que para isso precisem desafiar os riscos da morte. Entretanto, o encontro amoroso acontece, mudando a perspectiva de ambos sobre o sentido da vida e o preço do sacrifício pessoal.
O contraste existente entre o indivíduo nômade e o sedentário, uma constante nos personagens wendersianos, também está presente em "Submersão". Vivendo na fronteira de dois lados opostos, tanto Danny quanto James possuem um olhar estrangeiro, mas nutrem um desejo enorme de se fixar, estabelecer laços que os mantenham em segurança.
A narrativa é feita inicialmente em flashbacks, a partir das memórias de James (Mcvoy), que se encontra refém dos jihadistas. Depois, o presente de ambos os personagens é revelado numa montagem alternada. A escuridão e a claustrofobia do ambiente do submergível é comparada ao cativeiro de James, que luta para manter a sanidade e a esperança em sair vivo dali e reencontrar Danny (Vikanders).
A ideologia política e religiosa é confrontada na figura do Dr. Shadid (Alexander Siddig), e dos extremistas jihadistas, que questionam as crenças de James como condição para sua sobrevivência. O embate ideológico também passa pela tentativa de desconstrução da identidade do prisioneiro, que em crise busca em suas memórias o equilíbrio.
A percepção da realidade que nos envolve, a dificuldade em enxergar o que está diante de nossos olhos é outra constante nos filmes do cineasta alemão. Numa eterna relação de mediação com o mundo, os personagens têm dificuldades em se comunicar e sofrem o sentimento de abandono, sempre frustrados em seu desejo de aproximação com o outro.
Elisabete Estumano Freire
* India Mara Martins, autora do livro "A paisagem no cinema de Wim Wenders"(Editora Contracapa, 2014) é uma pesquisadora e professora do curso de Cinema da Universidade Federal Fluminense.
SUBMERSÃO (SUBMERGENCE, 2017)
DURAÇÃO: 1h52m
DRAMA, ROMANCE, TRILLER
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