Pés de Anta - As cineastas Mundurukus




O protagonismo feminino em "Pés de Anta - As cineastas Mundurukus"

Vencedor do Prêmio de melhor direção e roteiro na categoria Amazonas, do Festival Olhar do Norte 2018, o curta documental "Pés de Anta - As cineastas Mundurukus", de Kátia Brasil e Ana Mendes, apresenta o protagonismo das mulheres Mundurukus na luta pela autodemarcação das terras indígenas na Bacia do Rio Tapajós, no Pará.

Vivendo sob a ameaça de madeireiros, fazendeiros e do projeto de construção de um complexo de hidrelétricas, os guerreiros Mundurukus realizaram, em 2014, a autodemarcação da área da Terra Indígena Sawré Muybu. Convidada pelo cacique Juarez para registrar o fato, a comunicóloga Rachel Gepp, na convivência com as mulheres da aldeia, percebeu o interesse delas em participar do processo de filmagem. Decidiu, então, ajudá-las, ensinando as técnicas de roteiro e gravação em vídeo.

O documentário mostra o empoderamento das Mundurukus quando elas se tornam protagonistas da narrativa de luta da tribo. Além de cuidarem da aldeia e de levarem mantimentos aos guerreiros, percorrendo quilômetros de picadas na mata, as índias cineastas registraram o trabalho de autodemarcação. Como resultado, conquistaram um novo espaço na tribo, com voz ativa nas reuniões, antes restritas apenas aos homens.

O filme também é um olhar sobre a luta das populações indígenas pela sobrevivência e contra a invisibilidade imputada pelo Estado. Defendendo seu território, cultura e povo, os Mundurukus se unem às demais tribos vizinhas e desenvolvem sua própria narrativa. A apropriação das novas tecnologias de comunicação, como recurso de construção da memória imagética e ferramenta de mediação com o restante da sociedade brasileira, propicia às indígenas cineastas um lugar de fala importante, não somente dentro da comunidade, mas fora dela. Os índios Mundurukus continuam lutando para que o governo federal realize a homologação da autodemarcação da Terra Indígena Sawré Muybu.

"Pés de Anta - As cineastas Mundurukus" é o segundo documentário premiado da jornalista Kátia Brasil, cofundadora da Agência de Jornalismo Independente e Investigativo Amazônia Real. Formada pela Faculdade de Comunicação Hélio Alonso (RJ), mudou-se em 1991 para a Região Amazônica, atuando na imprensa local nos estados do Amazonas e Roraima, e como correspondente de A Folha de São PauloO Estado de São Paulo e O Globo. A jornalista também ganhou o segundo lugar no "1º Prêmio de Jornalismo Cidadão - Radiotube 2015", promovido pela ONG Criar Brasil, no Museu da República (RJ), com o documentário "Aruká, o último guerreiro Juma", que conta a história do povo em risco de extinção do sul do Amazonas.

Elisabete Estumano Freire.

* Texto publicado no Festival de Cinema Feminino de Chapada dos Guimarães

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