Estrelado por Marjorie Estiano e Sérgio Guizé, e dirigido por Alberto Graça, o filme Beatriz apresenta a história de Beatriz e Marcelo, que vivem um relacionamento marcado por jogos sexuais, criados para a construção de personagens literários.
O longa, uma coprodução da MPC Filmes (Brasil) e Filmes do Tejo II (Portugal), tem como pano de fundo a cidade de Lisboa, que também se torna personagem, como cenário ficcional das fantasias eróticas do casal. Convidado a escrever para uma grande editora Luso-Espanhola e ter seu livro adaptado para o teatro, Marcelo (Sérgio Guizé) está diante de um novo desafio, que abala o relacionamento. Em crise, Beatriz (Marjorie) vai tentar de tudo para manter o casamento e termina embarcando num jogo perigoso, que vai mudar seu modo de ver a vida.
Roteirizado por Alberto Graça, em parceria com Marcos Bernstein, Ricardo Bravo, José Carvalho e José Pedro dos Santos, o filme apresenta uma visão fetichista da figura feminina. A personagem, talvez inspirada em Nelson Rodrigues e Neville D'Almeida, transforma-se numa versão sofisticada de "A Dama do Lotação" (1978). Entretanto, Beatriz não busca apenas prazer, mas vai além, abandonando seu corpo aos caprichos de Marcelo, ainda que isso signifique submeter-se a toda espécie de violência.
Segundo os realizadores, a proposta era abordar uma relação de dominância e submissão, que dentro da psicologia e psiquiatria é conhecida como "loucura a dois"(folie à deux), uma espécie de transtorno compartilhado, de aceitação total dos delírios de uma das partes pelo outro. Contudo, esse tipo de psicopatia ficcionalizada no fllme mostra uma inversão de papéis, já que a personagem título não se mostra tão fragilizada, fraca ou com menor auto-estima. Ela aceita o jogo para se tornar àquela quem controla a relação.
Apesar de algumas boas tomadas e movimentação de câmera mais elaboradas, o longa mais parece um telefilme. A narrativa é bastante verborrágica e o diretor abusa dos primeiros planos em detrimento da encenação e de um enquadramento mais cinematográfico. A decisão pela montagem alternada, da rotina do casal e dos ensaios da adaptação teatral do texto de Marcelo, causa alguns problemas de ritmo, que pode cansar o espectador.
Ainda que a ideia fosse aproximar o filme da palavra, numa metáfora ao ofício do personagem Marcelo (Sérgio Guizé), perdeu-se a oportunidade de explorar a linguagem cinematográfica e realizar um filme mais visual e menos literário.
Elisabete Estumano Freire.
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