Com roteiro e direção de Rian Johnson, "Star Wars: Os últimos Jedi" traz de volta à saga o personagem Luke Skywalker (Mark Hamill). Com revelações surpreendentes, o filme é o ápice da jornada do herói, a provação suprema do mestre. Desta vez, Luke não terá apenas que enfrentar os inimigos do lado sombrio, mas superar seus temores e restaurar a Ordem Jedi. Também mostra a evolução de Rey nos caminhos da força. O filme questiona ainda a figura romantizada do herói e a (des)construção do mito.
Para entender o que acontece em "The Last Jedi", a relação dos seus personagens e as implicações para os próximos episódios, é necessário fazer um breve retrospecto da saga.
A trilogia original (1977-1983)
Quando o primeiro filme "Guerra nas Estrelas: Uma nova esperança" (Ep. IV) foi lançado em 1977, o público encontrou um jovem Luke que vivia num planeta distante, ansioso por trilhar seu próprio caminho. Ele era impulsivo, curioso e sonhador. A partir do encontro com o mestre Jedi Obi-Wan Kenobi (Alec Guiness) e a descoberta da mensagem de socorro da princesa Leia Organa (Carrie Fisher), ele é chamado à aventura. Após um breve momento de recusa, Luke parte para sua jornada, ao lado de novos aliados, Han Solo (Harrison Ford) e Chewbacca (Peter Mayhew).
O personagem passa então por um processo de amadurecimento. Nos filmes seguintes da trilogia original, "O império contra-ataca" - Ep. V (1980) e "O retorno de Jedi" - Ep. VI (1983), Luke aprende a entender e controlar a força. Surge um novo mentor, Mestre Yoda (Frank Oz), que prepara o jovem aprendiz para seu maior desafio: enfrentar o lado sombrio que existe dentro dele. Nosso herói também descobre ser filho do vilão Darth Vader/ Anakin Skywalker (James Earl Jones/ David Prowse/ Sebastian Lewis Shaw) e irmão da princesa Leia, por quem sentia real atração nos dois primeiros filmes da saga.
A trilogia original sustentou até o último momento o triângulo amoroso entre Han, Leia e Luke. Mesmo que a princesa mostrasse interesse por Solo, o relacionamento entre os três personagens não era muito claro. Em "Uma nova Esperança"(Ep. IV) e "O império contra ataca" (Ep. V) Luke e Leia já haviam trocado beijos antes de descobrirem a real condição que os unia, seja para causar ciúmes em Han Solo ou quando ela quis confortar Luke de seu infortúnio com Vader. Em "O retorno de Jedi" (Ep. VI), quando a verdade é revelada por Yoda e Obi-wan Kenobi, os irmãos reconhecem que de alguma maneira já sabiam de toda a verdade. A luta de Luke contra o lado obscuro da força é também a resistência à pulsão do desejo edipiano do personagem, representada na proibição da relação incestuosa com Leia. Ao final da trilogia original, a rebelião vence a guerra contra o Império e Luke consegue recuperar Anakin para o lado do bem. A ordem Jedi sobrevive na figura do jovem Skywalker e a República é restaurada na galáxia.
A segunda trilogia (1999-2005)
Os filmes seguintes da saga apresentariam a história do pai de Luke, Anakin Skywalker (Hayden Christensen, Jake Lloyd), e sua transformação em Darth Vader. Conhecida como segunda trilogia, "A Ameaça Fantasma" - Ep. I (1999), "O ataque dos clones" - Ep. II (2002) e "A vingança dos Sith" - Ep. III (2005) mostra o fim da República e o surgimento do Império Galáctico, assim como os motivos que levaram Yoda e Obi-wan Kenobi a esconderem de Anakin Skywalker os filhos gêmeos que teve com Padmé Amidala (Natalie Portman), respectivamente Leia e Luke.
A terceira trilogia - O despertar da Força (2015)
32 anos depois do lançamento de "O Retorno de Jedi" e sete anos após o fim da segunda trilogia, a saga da trilogia original com Luke, Leia e Han continua. Em "O Despertar da Força"- Ep. VII (2015), Luke desapareceu. Das cinzas do Império surge a Primeira Ordem, comandada pelo Líder Supremo Snoke (Andy Serkins), que deseja destruir o último remanescente Jedi. Ao seu lado, Ben Solo, o filho de Han e Leia que se transformou em Kylo Ren (Adam Driver) após ser seduzido pelo lado sombrio da força.
Descobrimos que Luke sumiu após perder Ben Solo para Snoke, o que também causou a separação de Leia e Han. A princesa, agora elevada ao posto de general, passou a comandar a rebelião para reestabelecer a República na galáxia. Leia ainda tem esperanças de recuperar o filho, assim como aconteceu com Anakin Skywalker, seu pai, e vencer o lado sombrio.
A general envia o piloto Poe Dameron (Oscar Isaac) em missão para recuperar o mapa do paradeiro do irmão Jedi. Poe é capturado pela Primeira Ordem, mas antes salva os planos numa unidade BB-8 que é enviada ao planeta Jakku. Ele consegue fugir da nave inimiga com a companhia de um aliado inusitado, o stormtrooper Finn (John Boyega).
Como o título do episódio VII sugere, "O despertar da força" acontece com o aparecimento de uma nova personagem, a jovem Rey (Daisy Ridley). A solitária sucateira que encontra a unidade BB-8 perdida no deserto de Jakku, ajuda Finn a fugir das tropas da Primeira Ordem. No caminho para a base rebelde, a bordo da Millenium Falcon, eles são encontrados por Han Solo e Chewbacca. A jovem, que acreditava que Skywalker era apenas um mito, também recebe o chamado à aventura, mas o medo do desconhecido a faz recusar. No entanto, ao ser capturada por Kylo Ren, ela começa a descobrir seus poderes. Rey testemunha o assassinato de Han pelo próprio filho, o que a faz aceitar o chamado e assumir junto a Leia a missão de trazer de volta o mestre Jedi.
A terceira trilogia - Os Últimos Jedi (2017)
Finalmente, em "Os últimos Jedi" - Ep. VIII (2017), Rey encontra Skywalker recluso numa ilha remota num planeta distante do centro da galáxia. O mestre Jedi é o herói ferido, que se sente culpado pela transformação de Ben Solo em Kylo Ren, decepcionando Leia e Han. Luke também carrega o fardo de ter se tornado uma lenda, questionando o orgulho, a hipocrisia e as paixões humanas que levaram os cavaleiros Jedi para o lado sombrio da força. Ele perdeu a fé na religião Jedi, que em sua visão fez brotar a tirania do Império e da Primeira Ordem. Envergonhado, o mestre perdeu a esperança e se tornou um homem cético. Ele irá atender as expectativas de Leia, da Aliança Rebelde e da jovem Rey, que busca um mentor? Ele aceitará o novo chamado à aventura?
A trilogia original sustentou até o último momento o triângulo amoroso entre Han, Leia e Luke. Mesmo que a princesa mostrasse interesse por Solo, o relacionamento entre os três personagens não era muito claro. Em "Uma nova Esperança"(Ep. IV) e "O império contra ataca" (Ep. V) Luke e Leia já haviam trocado beijos antes de descobrirem a real condição que os unia, seja para causar ciúmes em Han Solo ou quando ela quis confortar Luke de seu infortúnio com Vader. Em "O retorno de Jedi" (Ep. VI), quando a verdade é revelada por Yoda e Obi-wan Kenobi, os irmãos reconhecem que de alguma maneira já sabiam de toda a verdade. A luta de Luke contra o lado obscuro da força é também a resistência à pulsão do desejo edipiano do personagem, representada na proibição da relação incestuosa com Leia. Ao final da trilogia original, a rebelião vence a guerra contra o Império e Luke consegue recuperar Anakin para o lado do bem. A ordem Jedi sobrevive na figura do jovem Skywalker e a República é restaurada na galáxia.
A segunda trilogia (1999-2005)
Os filmes seguintes da saga apresentariam a história do pai de Luke, Anakin Skywalker (Hayden Christensen, Jake Lloyd), e sua transformação em Darth Vader. Conhecida como segunda trilogia, "A Ameaça Fantasma" - Ep. I (1999), "O ataque dos clones" - Ep. II (2002) e "A vingança dos Sith" - Ep. III (2005) mostra o fim da República e o surgimento do Império Galáctico, assim como os motivos que levaram Yoda e Obi-wan Kenobi a esconderem de Anakin Skywalker os filhos gêmeos que teve com Padmé Amidala (Natalie Portman), respectivamente Leia e Luke.
A terceira trilogia - O despertar da Força (2015)
32 anos depois do lançamento de "O Retorno de Jedi" e sete anos após o fim da segunda trilogia, a saga da trilogia original com Luke, Leia e Han continua. Em "O Despertar da Força"- Ep. VII (2015), Luke desapareceu. Das cinzas do Império surge a Primeira Ordem, comandada pelo Líder Supremo Snoke (Andy Serkins), que deseja destruir o último remanescente Jedi. Ao seu lado, Ben Solo, o filho de Han e Leia que se transformou em Kylo Ren (Adam Driver) após ser seduzido pelo lado sombrio da força.
Descobrimos que Luke sumiu após perder Ben Solo para Snoke, o que também causou a separação de Leia e Han. A princesa, agora elevada ao posto de general, passou a comandar a rebelião para reestabelecer a República na galáxia. Leia ainda tem esperanças de recuperar o filho, assim como aconteceu com Anakin Skywalker, seu pai, e vencer o lado sombrio.
A general envia o piloto Poe Dameron (Oscar Isaac) em missão para recuperar o mapa do paradeiro do irmão Jedi. Poe é capturado pela Primeira Ordem, mas antes salva os planos numa unidade BB-8 que é enviada ao planeta Jakku. Ele consegue fugir da nave inimiga com a companhia de um aliado inusitado, o stormtrooper Finn (John Boyega).
Como o título do episódio VII sugere, "O despertar da força" acontece com o aparecimento de uma nova personagem, a jovem Rey (Daisy Ridley). A solitária sucateira que encontra a unidade BB-8 perdida no deserto de Jakku, ajuda Finn a fugir das tropas da Primeira Ordem. No caminho para a base rebelde, a bordo da Millenium Falcon, eles são encontrados por Han Solo e Chewbacca. A jovem, que acreditava que Skywalker era apenas um mito, também recebe o chamado à aventura, mas o medo do desconhecido a faz recusar. No entanto, ao ser capturada por Kylo Ren, ela começa a descobrir seus poderes. Rey testemunha o assassinato de Han pelo próprio filho, o que a faz aceitar o chamado e assumir junto a Leia a missão de trazer de volta o mestre Jedi.
A terceira trilogia - Os Últimos Jedi (2017)
Finalmente, em "Os últimos Jedi" - Ep. VIII (2017), Rey encontra Skywalker recluso numa ilha remota num planeta distante do centro da galáxia. O mestre Jedi é o herói ferido, que se sente culpado pela transformação de Ben Solo em Kylo Ren, decepcionando Leia e Han. Luke também carrega o fardo de ter se tornado uma lenda, questionando o orgulho, a hipocrisia e as paixões humanas que levaram os cavaleiros Jedi para o lado sombrio da força. Ele perdeu a fé na religião Jedi, que em sua visão fez brotar a tirania do Império e da Primeira Ordem. Envergonhado, o mestre perdeu a esperança e se tornou um homem cético. Ele irá atender as expectativas de Leia, da Aliança Rebelde e da jovem Rey, que busca um mentor? Ele aceitará o novo chamado à aventura?
A beleza do filme é perceber que os roteiristas retomaram a jornada de Luke e Leia, que precisam passar por um novo momento de purgação e purificação. O mestre Jedi é o herói que rejeita a mitificação, mostrando sua humanidade e expondo suas neuroses, fraquezas e imperfeições. Leia também passa por um momento de ressurreição, encarando seus medos e pesar por ter falhado na condução de seu único filho. Para os irmãos Skywalker a redenção virá com a missão de conduzir Rey no caminho da força, o elixir, a nova esperança da ordem Jedi.
O filme também ganha profundidade e tensão psicológica nas figuras de Rey e Kylo Ren. A jovem sucateira foi uma criança abandonada pelos pais que busca desesperadamente uma substituição para sua carência afetiva. Ela projetou o desejo do amor parental em Han Solo e, posteriormente, em Luke e Leia. Em "Os últimos Jedi", Rey desce à caverna secreta, onde o lado sombrio é poderoso, para enfrentar as camadas mais profundas da sua mente. Ela se depara com as projeções do seu eu narcísico, seu medos e desejos. A sequência nos faz lembrar Bergman em "Persona" (1966). O espelhamento é um olhar do inconsciente da personagem tentando encontrar a satisfação da sua solidão e a necessidade de proteção. A provação é uma metáfora eficaz da psiquê da personagem, assim como aconteceu com Luke em "O império contra-ataca".
Por outro lado, o ego inflado de Kylo Ren apenas esconde a verdade de que ele é um tirano dominado pelo medo. O discípulo do lado sombrio é a imagem da frustração edipiana que se revela na agressividade contra as figuras paternas: Han Solo, Luke, Snoke. Entretanto, Kylo vive em conflito com a força. Ele deseja ser o novo Darth Vader, mas não conseguiu se desprender totalmente dos laços afetivos da infância. Ele mata o pai, seu inimigo natural diante do primeiro objeto de seu amor, a mãe, mas recua diante dela. Por isso, seu encontro com Rey é devastador. Ela, a mulher tentação, possui as qualidades de Leia e é forte na força, o que a torna uma substituta à altura da mãe dominadora. Kylo tentará subjugá-la de todas as formas, seja através da violência, da construção do desejo sexual ou do rebaixamento de sua autoestima. Com Rey, Kylo enfrentou sua primeira derrota e foi desmascarado. É um momento de reconhecimento mútuo da psicologia dos personagens. Se conseguir conquistá-la, ele poderá finalmente vencer seus medos e suprimir a ausência da proteção materna.
Muitos diálogos e cenas nos remetem às sequências clássicas dos episódios da trilogia original causando emoção e nostalgia. Do mesmo modo, a aproximação e o enfrentamento entre Rey (Daisy Ridley) e Kylo Ren (Adam Driver) também nos faz lembrar os confrontos entre Luke e Darth Vader, em que ambos sentem o conflito interno do outro, na dualidade entre o bem e o mal.
Entretanto, o clímax do filme é, sem dúvida, o embate entre Kylo Ren e Luke. O neto de Anakin/Darth Vader é a imagem da presentificação do passado de Luke, na figura fantasmagórica do lado sombrio que exige sua vingança. Com a morte de Han, Skywalker, consciente de suas falhas, não pode mais se esconder. Nem de Leia, nem de Kylo. Com a ajuda de mestre Yoda, cabe a Luke ser a inspiração para a Aliança Rebelde e um exemplo para a jovem Rey, que tem a missão de manter a Ordem Jedi viva.
Explorando a psiquê humana, os conflitos desta saga familiar resultam dos desejos e pulsões reprimidas e da tentativa de autoafirmação dos personagens. As várias facetas dos indivíduos, mais complexas que as dicotomias entre o bem e o mal, essência versus aparência, são trabalhadas em várias camadas. A fantasia da ficção transpõe na telona a construção do eu imaginário, criando a identificação do espectador em algum nível. E a satisfação vem da transgressão dos valores sociais entre o que é certo ou errado, verdadeiro ou falso, subvertidos no universo ficcional da saga e desse voyeurismo cinematográfico, de recompensa das frustrações individuais através do olhar fílmico, que se constitui em objeto de fascinação e gozo.
O filme também ganha profundidade e tensão psicológica nas figuras de Rey e Kylo Ren. A jovem sucateira foi uma criança abandonada pelos pais que busca desesperadamente uma substituição para sua carência afetiva. Ela projetou o desejo do amor parental em Han Solo e, posteriormente, em Luke e Leia. Em "Os últimos Jedi", Rey desce à caverna secreta, onde o lado sombrio é poderoso, para enfrentar as camadas mais profundas da sua mente. Ela se depara com as projeções do seu eu narcísico, seu medos e desejos. A sequência nos faz lembrar Bergman em "Persona" (1966). O espelhamento é um olhar do inconsciente da personagem tentando encontrar a satisfação da sua solidão e a necessidade de proteção. A provação é uma metáfora eficaz da psiquê da personagem, assim como aconteceu com Luke em "O império contra-ataca".
Por outro lado, o ego inflado de Kylo Ren apenas esconde a verdade de que ele é um tirano dominado pelo medo. O discípulo do lado sombrio é a imagem da frustração edipiana que se revela na agressividade contra as figuras paternas: Han Solo, Luke, Snoke. Entretanto, Kylo vive em conflito com a força. Ele deseja ser o novo Darth Vader, mas não conseguiu se desprender totalmente dos laços afetivos da infância. Ele mata o pai, seu inimigo natural diante do primeiro objeto de seu amor, a mãe, mas recua diante dela. Por isso, seu encontro com Rey é devastador. Ela, a mulher tentação, possui as qualidades de Leia e é forte na força, o que a torna uma substituta à altura da mãe dominadora. Kylo tentará subjugá-la de todas as formas, seja através da violência, da construção do desejo sexual ou do rebaixamento de sua autoestima. Com Rey, Kylo enfrentou sua primeira derrota e foi desmascarado. É um momento de reconhecimento mútuo da psicologia dos personagens. Se conseguir conquistá-la, ele poderá finalmente vencer seus medos e suprimir a ausência da proteção materna.
Muitos diálogos e cenas nos remetem às sequências clássicas dos episódios da trilogia original causando emoção e nostalgia. Do mesmo modo, a aproximação e o enfrentamento entre Rey (Daisy Ridley) e Kylo Ren (Adam Driver) também nos faz lembrar os confrontos entre Luke e Darth Vader, em que ambos sentem o conflito interno do outro, na dualidade entre o bem e o mal.
Entretanto, o clímax do filme é, sem dúvida, o embate entre Kylo Ren e Luke. O neto de Anakin/Darth Vader é a imagem da presentificação do passado de Luke, na figura fantasmagórica do lado sombrio que exige sua vingança. Com a morte de Han, Skywalker, consciente de suas falhas, não pode mais se esconder. Nem de Leia, nem de Kylo. Com a ajuda de mestre Yoda, cabe a Luke ser a inspiração para a Aliança Rebelde e um exemplo para a jovem Rey, que tem a missão de manter a Ordem Jedi viva.
Explorando a psiquê humana, os conflitos desta saga familiar resultam dos desejos e pulsões reprimidas e da tentativa de autoafirmação dos personagens. As várias facetas dos indivíduos, mais complexas que as dicotomias entre o bem e o mal, essência versus aparência, são trabalhadas em várias camadas. A fantasia da ficção transpõe na telona a construção do eu imaginário, criando a identificação do espectador em algum nível. E a satisfação vem da transgressão dos valores sociais entre o que é certo ou errado, verdadeiro ou falso, subvertidos no universo ficcional da saga e desse voyeurismo cinematográfico, de recompensa das frustrações individuais através do olhar fílmico, que se constitui em objeto de fascinação e gozo.
No confronto entre a Primeira Ordem e os rebeldes da Aliança, os demais personagens da nova trilogia movimentam a ação. Os roteiristas mais uma vez exploram as funções arquetípicas já conhecidas (herói, mentor, aliados, sombra, camaleão, pícaro, guardião do limiar, arauto) flexibilizando o caráter dos personagens como máscaras descartáveis. Além de Finn (John Boyuga) e Poe Dameron (Oscar Isaac), temos ainda: General Hux (Domhnall Gleeson), Líder Supremo Snoke (Andy Serkins), o misterioso DJ (Benício Del Toro), capitã Phasma (Gwendoline Christie), Tenente Connix (Billie Lourd), Maz Canata (Lupita Nyong'o), Rose Tico (Kelly Marie Tran) e a Vice Almirante Holdo (Laura Dern). Lembrando que uma das marcas da saga é a construção da representatividade de mulheres fortes, que não se deixam submeter pelo preconceito de gênero.
Em "Os últimos Jedi", o discurso da construção do herói é feito no sentido de que, em algum momento crucial, todos somos levados a realizar atos de coragem, aceitando o sacrifício como um dever em prol de um ideal, de um coletivo. Entretanto, como seres humanos, temos também momentos de fraqueza, desesperança e rendição. O filme questiona a romantização do herói perfeito e mostra a necessidade da (des)(re)construção do mito como símbolo ideal dos valores morais a serem perseguidos pelos indivíduos. Na verdade, revela que encarnar o herói ou o vilão são apenas facetas, dois lados da mesma moeda, dependendo das escolhas que fazemos. A impulsividade e a ação nem sempre são as melhores escolhas, mas a paciência e a razão devem ser observadas, pois a sabedoria é a maior aliada.
Os novos episódios da saga Star Wars (VII e VIII), e o seu universo expandido em "Rogue One" (2016), mostraram a força da mitologia de George Lucas, empolgando novamente os fãs, após o fraco desempenho da segunda trilogia que narra a história de Anakin Skywalker (Episódios I, II e III) e a série de animação em 3D, "A guerra dos clones"(2008). Agora é esperar as surpresas do novo episódio IX, que tem previsão de estreia em 2019. O filme contará com as últimas cenas filmadas de Carrie Fisher no papel de Leia Organa. A atriz faleceu em dezembro de 2016.
Elisabete Estumano Freire.
Em "Os últimos Jedi", o discurso da construção do herói é feito no sentido de que, em algum momento crucial, todos somos levados a realizar atos de coragem, aceitando o sacrifício como um dever em prol de um ideal, de um coletivo. Entretanto, como seres humanos, temos também momentos de fraqueza, desesperança e rendição. O filme questiona a romantização do herói perfeito e mostra a necessidade da (des)(re)construção do mito como símbolo ideal dos valores morais a serem perseguidos pelos indivíduos. Na verdade, revela que encarnar o herói ou o vilão são apenas facetas, dois lados da mesma moeda, dependendo das escolhas que fazemos. A impulsividade e a ação nem sempre são as melhores escolhas, mas a paciência e a razão devem ser observadas, pois a sabedoria é a maior aliada.
Elisabete Estumano Freire.
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