Todo o dinheiro do mundo

Inspirado em fatos reais, "Todo o dinheiro do mundo",  de Ridley Scott, narra a história do rapto de John Paul Getty III, neto do magnata norte-americano do petróleo John Paul Getty, que aconteceu na Itália, em 1973, e foi manchete na imprensa internacional. O filme mostra a luta desesperada de Gail Harris, mãe do adolescente sequestrado, para conseguir o dinheiro do resgate, que o avô bilionário se recusou a pagar.
Com uma narrativa linear, porém abusando dos flashbacks, Ridley Scott nos revela não somente os eventos do sequestro, mas os bastidores da família Getty. Apesar de narrar eventos históricos, algumas cenas, diálogos e personagens são fictícios. Baseado no livro de John Pearson, o roteiro de David Scarpa enfoca a psicologia de John Paul Getty, um homem escravizado pela riqueza e poder.

inicialmente, o ator Kevin Spacey havia sido escalado para interpretar o papel do magnata. Entretanto, com as denúncias de assédio sexual envolvendo o ator, Ridley Scott e os demais produtores executivos decidiram substituí-lo pelo veterano Christopher Plummer. Assim, o elenco voltou ao set de filmagem para refilmar as cenas em que contracenam com o personagem John Paul Getty. 


Considerado uma verdadeira lenda viva da cinematografia mundial, Plummer tem mais de 100 filmes no currículo, entre os quais clássicos como A Noviça Rebelde (1956), Waterloo (1970), A batalha da Bretanha (1969) e A queda do império Romano (1964). Vencedor de dois Tony awards, pelos musicais Cyrano e Barrymore, além do Globo de Ouro e do Oscar 2012 como melhor ator no filme Toda forma de amor (2010), Christopher Plummer mostra mais uma vez sua versatilidade em Todo o dinheiro do mundo (2017) e está perfeito no papel do magnata John Paul Getty. A excelente interpretação lhe rendeu uma indicação ao Oscar 2018 como melhor ator coadjuvante. O ator canadense, com 88 anos, também se tornou o mais idoso a concorrer ao prêmio da Academia.


A construção que Plummer faz de seu personagem nos mostra um patriarca em constante conflito familiar. Getty traz consigo uma amargura, resultado da rixa com o pai, e do esforço de construir um império financeiro para humilhar seus oponentes. Ele podia ser um avô amoroso, sensível e ao mesmo tempo um homem implacável, extremamente calculista, vingativo e inflexível, colocando em risco a vida das pessoas de sua família que ele dizia amar. O ator consegue transmitir esse turbilhão de sentimentos, mostrando as contradições de um homem que podia ser generoso, um filantropo das artes e da arquitetura, e igualmente sovina e mesquinho. Com Plummer, o personagem jamais será caricato, nem um típico vilão, ainda que o roteiro apresente algumas situações clichês. Nós chegamos a amá-lo, apesar de ficarmos estupefatos com suas ações.


Outro grande destaque no filme é a personagem Gail Harris, a nora do magnata, interpretada por Michelle Williams. A mulher que desafiou o homem mais poderoso do mundo se tornou refém de uma situação extrema: conseguir o dinheiro do sequestro milionário para salvar seu filho Paul (Charlie Plummer), herdeiro do império Getty. Isto porque o magnata se recusou a negociar com os sequestradores e pagar o valor do resgate.
Havia pouco material disponível sobre Gail, que sempre optou por uma vida reservada, longe dos holofotes. Michelle fez uma pesquisa minuciosa para construir a personagem, que era uma mulher inteligente, disciplinada e determinada, que não se deixou corromper pela fortuna dos Getty. Ao lado de Fletcher Chace (Mark Wahlberg), um ex-agente da CIA que trabalhava para o magnata do petróleo, ela tentará de todas as maneiras negociar com os sequestradores e com o ex-sogro para conseguir o valor do resgate. O personagem Fletcher Chace é uma espécie de mediador entre os dois pólos da ação, Gail e Getty.

Charlie Plummer (Sopranos, The Dinner) é John Paul Getty III, o neto do magnata sequestrado na Itália. O jovem ator interpreta um adolescente assustado, que tenta sobreviver e fugir do cativeiro, a qualquer custo. O personagem, marcado para sempre pela tragédia, tornaria-se um símbolo da crueldade humana, como refém de uma articulada quadrilha envolvendo a própria polícia e a máfia italiana. 
Com locações na Itália, o filme tem uma fotografia belíssima, a cargo de Dariusz Wolski, ASC. Já na abertura, Scott realiza um plano sequência, como a abertura na Via Veneto, uma homenagem a La Dolce Vita, de Federico Fellini, um de seus filmes favoritos. A atmosfera é pensada a partir das tonalidades, recriando o visual dos anos 1970, utilizando uma paleta de cores monocromáticas, assim como nas roupas de estilo vintage, a cargo da designer de figurino, Janty Yales (Gladiador). 

O diretor encabeça ainda o time de produção, formado por Dan Friedkin, Bradley Thomas, Quentin Curtis, Chris Clark, Mark Huffan e Kevin K. Walsh; Designer de produção de Arthur Max (The Martian); edição de Claire Simpson; e composição de Daniel Pemberton (Rei Arthur).  

A história do sequestro de John Paul Getty III, que ficou famosa no mundo todo, quando a orelha do adolescente foi enviada a um jornal como prova de que os sequestradores estavam realmente dispostos a matar o rapaz, é relembrada quase cinquenta anos depois por Ridley Scott, no cinema. "Todo o dinheiro do mundo" não é apenas um longa sobre um crime hediondo e o drama familiar ao estilo shakespeariano, mas uma memória viva de que o terrorismo, a ambição e avareza podem destruir a vida das pessoas.

Elisabete Estumano Freire.
Estreia: 01/02/2018.
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