Pantera Negra


Dirigido por Ryan Coogler, "Pantera Negra" não é apenas mais um filme de super-herói, mas um marco no cinema do gênero por apresentar uma superprodução com elenco predominantemente formado por atores negros. Com um roteiro inteligente, o novo filme do Universo Marvel trabalha questões políticas, ideológicas e de gênero, com personagens bem desenvolvidos e motivações contundentes.


Criado nos anos de 1960, por Stan Lee e Jack Kirby, Pantera Negra foi o primeiro super-herói de ascendência africana a aparecer numa grande editora de quadrinhos. Surgiu numa época de efervescência da luta da população negra pela igualdade dos direitos civis nos Estados Unidos. Contemporâneo dos líderes Martin Luther King, Malcolm-X e o movimento dos "Panteras Negras", o personagem da Marvel Comics é um ícone da força e da coragem dos afrodescendentes. No cinema, foi introduzido em "Capitão América: Guerra Civil", e agora ganha longa próprio, retornando futuramente em "Os Vingadores: Guerra Infinita".


Tudo tem início com a origem de Wakanda, um país formado pela reunião de tribos africanas que se tornou um oásis tecnológico graças ao precioso vibranium, um raro minério com poderes especiais. Para se proteger dos colonizadores ocidentais, os sucessivos reis de Wakanda optaram pelo isolacionismo e a simulação visual. Escondidos por uma densa floresta virtual, a nação africana é vista internacionalmente como um dos países mais pobres do Terceiro Mundo.
O diretor Ryan Coogler e o ator Chadwick Boseman

Qu
ando o Rei de Wakanda, T'Chaka (John Kani) morre num atentado terrorista durante reunião da Organização das Nações Unidas (ONU), seu filho T'Chala (Chadwick Boseman) assume o trono. Okoye (Danai Gurira) informa que o contrabandista Ulysses Klaue (Andy Serkis) pretende negociar vibranium roubado na Coréia do Sul. Para impedir a transação, eles seguem na missão para recuperar o metal e descobrem o envolvimento do governo dos Estados Unidos no caso. 


Por trás da trama política, o espectador descobre um drama familiar tipicamente shakespeariano. Quando Érik/Killmonger (Michael B. Jordan) desafia T'Chala num duelo, o rei é confrontado pelos erros do passado. Em lados opostos, o ex-combatente militar norte-americano clama por justiça e vingança. Ele não quer apenas que a prosperidade de Wakanda seja compartilhada com os irmãos negros pelo mundo inteiro, mas deseja a guerra e o trono real. Como um justiceiro, sua luta também é contra todos aqueles que se omitiram em séculos de escravidão e segregação racial.


A partir daí um conflito não apenas físico, mas ideológico e político se faz presente. Enquanto Killmonger quer utilizar a tecnologia do vibranium como arma para se vingar de seus inimigos, T'Chala teme pela segurança de seu país. Ele não pretende perder o trono, nem o "way-of-life" dos Wakandianos, ainda que sua omissão política cause o sofrimento dos irmãos negros, como a questão dos refugiados no continente africano, o tráfico de mulheres e a exploração de suas riquezas pelas nações colonizadoras do Primeiro Mundo.

O filme também trabalha a questão de gênero dando grande destaque às personagem femininas. Nakia (Lupita Nyong'o), Okoye (Danai Gurira) e Shuri (Letitia Wright) são inteligentes, carismáticas e dão leveza à trama, com um toque de humor. Elas possuem um grande senso de dever e lealdade, atuando politicamente e não apenas como um refúgio sentimental masculino. Essas mulheres são a força propulsora do longa e responsáveis por algumas das melhores cenas de ação. 


De um modo geral, os personagens são bem trabalhados, possibilitando aos atores várias camadas de interpretação. Não há que se falar em maniqueísmos. Em "Pantera Negra", os "vilões" demonstram coerência em suas ações, assim como os "mocinhos" são inseguros e imperfeitos. 

O roteiro de Ryan Coogler e Joe Robert Cole enfatiza a construção psicológica dos personagens e a reflexão sobre seus diferentes pontos de vista. Não há como se manter eternamente isolado e alheio ao que acontece ao redor, no mundo. A impassividade, o medo, a revolta e a ação surgem a partir do modo como os indivíduos encaram todas as formas de opressão, contra si, outrem ou uma coletividade. 
O designer de produção, a direção de arte e o figurino realizaram um trabalho primoroso, mesclando o misticismo e os elementos tribais com a sofisticação da alta tecnologia. A fotografia valorizou o colorido das vestes tradicionais e dos efeitos visuais. A direção de atores  procurou enfatizar a dança, os ritos e costumes, embalados por uma trilha sonora rica em elementos da cultura afro.
O filme também fez um contraponto entre a tradição e a modernidade, mostrando que o passado cultural de um povo deve ser valorizado e preservado, ainda que essa mesma sociedade busque o avanço tecnológico e científico. O longa também tem vários momentos engraçados, com piadas que funcionam e não parecem forçadas, algo incomum nos filmes do gênero.

Talvez um dos pecados de Pantera Negra seja o uso excessivo das cenas de ação e de motion graphics. Algumas sequências são arrastadas demais, como as batalhas campais, cansando o espectador. As figuras digitais dos personagens também não funcionam muito bem, sendo visivelmente imperfeitas. 
É importante reconhecer que "Pantera negra" elevou os filmes de super heróis a um novo patamar dramático e cênico, focado não somente na ação, mas principalmente na motivação de seus personagens. Com uma narrativa forte e um visual arrojado, o longa surpreendeu a crítica e conquistou o público. Quase um mês em cartaz, o longa entrou para o seleto clube dos filmes do bilhão. Na América do Norte, é o segundo filme de super heróis a ultrapassar a cifra de 1 bilhão de dólares em bilheterias no mundo todo, atrás agora somente de "Os Vingadores", também da Marvel. 


"Pantera Negra" ainda tem no elenco as presenças de Forest Whitaker, Angela Basset, Winston Duke, Martin Freeman, Daniel Kaluuya e Nabiyah Be. E aqui vai uma dica: não vá embora antes do término do filme. Espere uma surpresa nas cenas finais, nos créditos e pós créditos. O diretor e os produtores dão pistas da continuação da saga do Pantera Negra em "Os Vingadores: Guerra Infinita". 


 Elisabete Estumano Freire.

Confira também: "Pantera Negra ultrapassa a marca de 1 bilhão de dólares"



      


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