15h17 - Trem para Paris

Dirigido por Clint Eastwood, o filme narra a história verídica de três amigos que realizaram um ato de bravura ao impedir um ataque terrorista num trem para Paris, em 2015. Misturando ficção e realidade, o cineasta dá continuidade a uma sequência de filmes com personagens heróicos da vida real ("Sully: o herói do rio Hudson" e "Sniper Americano"). Desta vez, os atores principais são os próprios protagonistas reais do drama: Anthony Sadler, o soldado Alek Skarlatos e o piloto da Força Aérea, Spencer Stone.

Estruturado em flashbacks, o longa apresenta a infância dos três amigos que se conheceram na cidade de Sacramento, no Estado norte-americano da Califórnia. Vítimas de bullying, as crianças são discriminadas no colégio e reprimidas por um sistema de ensino público e religioso. 
Eastwood critica esse sistema educativo e a apropriação do discurso científico, muitas vezes baseado em preconceitos sociais, rotulando pessoas e comportamentos. Entretanto, é interessante observar a naturalidade com que mostra a cultura da violência, sem questionar o fato de crianças nos Estados Unidos terem livre acesso a armamentos de fogo. 
No desenvolvimento da narrativa, o protagonismo cabe a Spencer Stone, que sofre com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Apesar do diagnóstico, sua fé e perseverança o impulsionam numa trajetória de superação para ingressar nas forças armadas. A adaptação é difícil, mas ele acredita que tem um grande propósito a realizar. É ele que tem a ideia de convidar os amigos para passar as férias fazendo um mochilão turístico na Europa. 
Nesse momento, quando a história principal começa a se delinear, é que surgem os principais problemas do roteiro.  A sequência do turismo pela Europa é quase interminável, uma verdadeira barriga no filme. São cenas e mais cenas com muitos selfies, passeios por pontos turísticos, encontros e noitadas. Um relato de viagem sem muita emoção e com diálogos pobres. Talvez o momento mais interessante da película, além da própria tentativa de ataque terrorista, seja a crítica da ideologia de supremacia norte-americana sobre os fatos históricos da Segunda Guerra Mundial. 

O ponto alto do filme, a ação rápida dos três amigos norte-americanos para imobilizar o terrorista dentro do trem da Thalys 9364, que fazia o trajeto Amsterdã-Paris, é muito breve se comparada ao restante do longa. O filme não dá ênfase ao britânico Chris Norman e dois passageiros franceses que ajudaram a neutralizar o agressor marroquino El-Khazzani.  Depois, o que se segue é o reconhecimento internacional e as honrarias, com imagens da homenagem concedida pelo Presidente francês, François Hollande, o encontro com Barack Obama e o retorno dos três amigos a Sacramento. 

De um modo geral, a opção em utilizar os personagens reais e não atores profissionais é interessante enquanto relato documental, mas questionável no resultado final. Ainda que seja uma boa história e que o desempenho de Spencer Stone, Alek Skarlatos e Anthony Sadler seja razoável, o filme não consegue se sustentar dramaticamente. 

Elisabete Estumano Freire.



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