Se a rua Beale falasse



Dirigido por Barry Jenkins, vencedor do Oscar 2017 de melhor filme por Moonlight: sob a luz  do luar, o filme Se a Rua Beale falasse, adaptado da obra de James Baldwin, mistura romantismo e crítica social, denunciando o descaso e o racismo como modus operandi no interior do sistema judiciário norte-americano.

No Harlem, na década de 1970, Tish Rivers (Kiky Lane) e Alonzo "Fonny" Hunt (Stephan James) são dois amigos de infância que se enamoram. Entretanto, o relacionamento dos jovens será abalado pela acusação de que Fonny estaria envolvido num crime de estupro. Enquanto as respectivas famílias do casal tentam conseguir recursos e provar a inocência do rapaz, ele se depara com a cruel realidade de negros e pobres dentro dos presídios.

A força da personagem Tish, que grávida se desdobra para conseguir sobreviver numa sociedade racista e lutar pela liberdade de "Fonny", é praticamente o fio condutor de toda a trama. Entretanto, o romance é apenas o pano de fundo para que o diretor exponha temas como a violência contra a mulher, o fanatismo, a intolerância, a desigualdade social, e as ameaças da máquina estatal e seu sistema punitivo.

É através das percepções dos personagens, e principalmente de Tish (Kiky Lane), que o diretor, também responsável pelo roteiro, irá desenvolver a crítica ao sistema judiciário norte-americano. Com um discurso forte, ele apresenta a visão do afrodescendente quanto ao poder opressor do homem branco. Para a grande maioria da população negra, marginalizada e perseguida, o ideal da América Livre ainda é um sonho distante.

A narrativa do filme é toda construída em flashbacks, intercalando com voz off, quase sempre a partir do ponto de vista de Tish. É a personagem que narra os principais acontecimentos sobre a movimentação dos familiares, amigos e do advogado do caso. Quase onipresente e onisciente, ela não deixa escapar os detalhes referentes a tudo que rodeia o universo de "Fonny".

O cineasta utiliza alguns recursos narrativos do cinema documental para enfatizar a perspectiva crítica da personagem. A visão de Jenkins não tem por finalidade vitimizar, mas expor as feridas do sistema. Por isso mesmo, o filme revela que numa sociedade desigual, os marginalizados terminam recorrendo a outros subterfúgios para poder se defender contra seus opressores.

Um dos problemas do filme é a interpretação do casal protagonista, numa idealização um tanto exagerada do sentimento romântico. Ainda que os personagens ganhem maturidade ao longo da trama, a performance dos atores não chega a impressionar, sendo claramente ofuscados pelos veteranos, especialmente Regina King e Colman Domingo. A bela atuação da atriz que deu vida à personagem Sharon Rivers, a mãe de Tish, foi reconhecida e duplamente premiada com o Globo de Ouro e o Critics' Choice Awards como melhor atriz coadjuvante. A atriz veterana é forte candidata ao Oscar 2019. 

Se a Rua Beale falasse concorre ainda nas categorias de melhor roteiro adaptado e trilha sonora original. 

Elisabete de J. Estumano Freire.




 Estreia: 07 de Fevereiro de 2019.
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