Pastor Cláudio


Lançado no mês que se completa 55 anos do Golpe que deu início à Ditadura Civil-Militar no Brasil (1964-1985), o filme "Pastor Cláudio", da documentarista Beth Formaggini, mostra o encontro entre o ex-delegado do DOPS, Claudio Guerra, Eduardo Passos, psicólogo e ativista dos Direitos Humanos. Guerra, atualmente pastor de uma igreja evangélica, foi responsável por assassinar e incinerar corpos de opositores de partidos de esquerda durante a Ditadura Civil-Militar no Brasil,  enquanto Eduardo Passos trabalha no atendimento às vítimas de violência no Estado.

Em 76 minutos de filme, Claudio Guerra, hoje aposentado e beneficiado pela Lei da Anistia (1976), revelou não somente como eram praticados os assassinatos e ocultação dos cadáveres de presos políticos, mas falou sobre os bastidores da política de um Estado terrorista e de extrema direita. 

A diretora Beth Formaggini criou um dispositivo fílmico interessante, em que vai ilustrando com imagens não somente as fotos dos assassinados e desaparecidos políticos, mas também vídeos e documentos. Deste modo, ajuda a compor o cenário dos eventos revelados por Cláudio, captando sua reação diante de suas vítimas.

Em 2012, o ex-delegado concedeu depoimento aos jornalistas Rogério Medeiros e Marcelo Netto que resultou no lançamento do livro "Memórias de uma guerra suja". A partir da obra, a cineasta conseguiu esclarecer o caso de 19 desaparecidos políticos, integrantes do Partido Comunista do Brasil (PCB), executados pela Operacão Radar (1973-1976). 


O documentário é resultado da investigação que Beth Formaggini vem desenvolvendo sobre as vítimas da ditadura no Brasil. A cineasta já havia lançado o documentário "Memórias para uso diário" (2007) sobre o Grupo Tortura Nunca Mais. Em 2015, Beth decidiu ir para Vitória (ES) junto com Eduardo Passos para realizar a entrevista com Claudio Guerra.

O longa apresenta dados que chocam o espectador, com a frieza dos relatos e extensão das ações de extermínio dos dissidentes políticos. Nele, Pastor Claudio revela mais informações sobre atividades terroristas no país, como a tecnologia da tortura nos aparelhos do Estado financiada por empresários, ainda em atividade. Fala também sobre perseguições, perdas, temores e garantias pessoais. 

O documentário  venceu o prêmio de melhor filme no Festival de Vitória (2018) e participou dos seguintes festivais: Festival Internacional de Cinema Documental (Equador, 2018); Festival Kinoarte de Cinema 2018; da mostra Brasil em Movimento (França, 2018); Festival Internacional de Mulheres no Cinema - FimCine 2018; Festival do Rio 2017; Festival de Havana 2017; Festival Internacional de Filme Documentário do Uruguai - Atlantidoc 2017; Forum Doc BH 2017 ; e do Festival Internacional Pachamama (Acre, 2017). 

O filme é uma produção da 4Ventos Comunicação com distribuição da ArtHouse.



Elisabete Estumano Freire.


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